sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um MOURA, Leonel Brizola


Leonel de Moura Brizola

Escrito por Humberto Macedo

 (Governador do Rio Grande do Sul - De 1959 a 1963 - Governador do Rio de Janeiro - De1983 a 1987 e de 1991 a 1994)
Leonel de Moura Brizola (Carazinho, RS - 1922-2004) marcou a política brasileira por quase 60 anos. Sua mensagem centra-se na defesa de um país que caminhe com os próprios pés, superando o longo processo de dependência estrangeira, que o vinha atrofiando desde praticamente a descoberta, em 1500. Suas ações como governador do Rio de Grande do Sul, cargo que galgou aos 37 anos, logo marcaram a administração e a política brasileira, por seus lances de bravura e antevisão, quando o mundo estava em plena guerra fria. Foi assim com as primeiras expropriações de empresas americanas, a Bond and Share e a ITT, em 1959 e 1962, que constituiu o passo decisivo para a nossa emancipação na energia e nas telecomunicações. Com a Campanha da Legalidade, a partir de Porto Alegre, ele conseguiu unir todo o Brasil, numa rebelião cívico-militar que pôs abaixo um veto dos generais e das elites conservadoras à posse do vice-presidente João Goulart, em 1961. Seus planos de reestruturação administrativa e a implantação da reforma agrária sacudiram o país num amplo movimento para superar os eternos vícios de inércia e atraso que atropelavam o nosso progresso como nação. Essa mobilização possibilitou  seu programa de educação, que erradicou um analfabetismo que beirava os 50% entre os gaúchos e levou mais de três mil escolas gratuitas para todas as crianças do Rio Grande do Sul.
As idéias e as ações de Brizola logo atraíram contra si os interesses do grande capital, sobretudo o internacional, que acabou forçando o seu exílio no Uruguai, a partir de 1964, quando um golpe militar e empresarial, sob a tutela dos Estados Unidos, depôs o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura, que se prolongaria por mais de 20 anos. Não obstante, em 1979, quando retorna ao país, com a decretação da anistia, ele encontra um clima contaminado pela opressão das grandes empresas, sobretudo multinacionais e de mídia, que lhe lançam uma perseguição sistemática. Seu nacionalismo não cabia na formatação do neoliberalismo, que detonou as comportas dos países emergentes e se apossou de suas riquezas.
A ditadura deixava de ser apenas militar para tornar-se midiática e econômica, já que os planos internacionais eram de apoderar-se das nossas grandes estatais e recursos naturais, como acabou acontecendo com  a Telebrás, a Eletrobrás e a Vale do Rio Doce. Brizola vê-se ainda mais cercado do que na sua época de governador do Rio Grande do Sul (1959-1963) e é impedido de completar sua obra, o que só seria possível se, se tornasse presidente da República.
Nem por isso sua mensagem deixa de chegar ao povo, que, no Rio de Janeiro, o elege governador por duas vezes. Lá, a duras penas, ele implanta seu programa de educação integral, com a construção de 500 grandes escolas, os CIEPs, onde as crianças ficavam o dia inteiro estudando e recebiam três refeições diárias. Depois  de governar o Rio e sempre fiel a seu mentor político,  Getúlio Vargas, o presidente que transformou o Brasil de um país agrário em uma nação desenvolvida, inclusive com um avançado programa social, Brizola saiu em pregação pelo país, sendo duas vezes candidato a presidente.
Para garantir a continuidade de sua mensagem, Brizola criou o PDT, em 1980, depois que a ditadura lhe tomou o PTB de Vargas, sigla que refundara em Lisboa, pouco antes do retorno do exílio. Ele próprio fez questão de redigir pessoalmente o artigo 1º do mais nacionalista dos partidos brasileiros, que diz:
Art. 1° O Partido Democrático Trabalhista - PDT é uma organização política da Nação Brasileira para a defesa de seus interesses, de seu patrimônio, de sua identidade e de sua integridade, e tem como objetivos principais lutar, sob a inspiração do nacionalismo e do trabalhismo, pela soberania e pelo desenvolvimento do Brasil, pela dignificação do povo brasileiro e pelos direitos e conquistas do trabalho e do conhecimento, fontes originárias de todos os bens e riquezas, visando à construção de uma sociedade democrática e socialista.
Quando morreu em 2004, sempre com um entusiasmo de estudante, ele via com grande paixão os movimentos de autonomia que vinham assumindo a Argentina, Bolívia, Uruguai e Venezuela e previa que a onda logo desembocaria no Brasil, superando o neoliberalismo. Como outros líderes brasileiros e latino-americanos, que não conseguiram chegar ao poder maior, mas marcaram a história da independência dos seus povos, Leonel Brizola está hoje no panteão de nossos heróis, ao lado dos grandes libertadores como Tiradentes, Frei Caneca, Simão Bolívar, Artigas, San Martin e Sandino.

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