sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Continuando com os Mouras


A propósito da nossa origem familiar, nós somos De Moura e não apenas Moura. Por razões que desconheço, o nome Mor teria originado a palavra “moreno” (ou o queimado do Sol). Sobre a nossa família (apenas posso inferir), todos são De Moura até o século XIII. Anteriormente a isso, éramos conhecidos como Mor (houve pessoas que preservaram o sobrenome Mor e que foram, reconhecidamente, parentes). Isso era fácil de reconhecer, pois na Idade Média, a maior cidade de Portugal, Lisboa, não chegava a ter 10 mil habitantes. 
Quando nossa família fugiu da Inquisição Católica (uma das poucas famílias de portugueses de religião judaica que conseguiram isso), em 1498, os parentes nossos que foram para Amsterdã adotaram, aos poucos ( até cerca de 1658), o nome Mor. Os que ficaram por lá são Mor até hoje. São membros da Congregação dos Judeus Portugueses da capital da Holanda. Os que, entre os anos 1658 e 1664 foram para as ilhas britânicas, depois para as Antilhas Britânicas, e depois para as demais possessões britânicas (EUA, Austrália etc.), adotaram o More (não é Moore, mas More). Os Moura – a família era de judeus sefaraditas – dos reinos ibéricos (Castela etc.) viraram Mora, e foram maciçamente batizados como católicos, ainda que pela força: muitos morreram queimados em praça pública acusados de prática de uma religião ilegal, o judaísmo.
Um parente nosso, francês, escreveu uma tese universitária sobre o Mora. Os Moura chegaram ao Brasil – litoral da Bahia – em 1503, no navio de Bastião De Moura, o Espoir d’Honfleur. Ele voltou para Honfleur na França ao final de 1503, e em 1504 passou outra vez pelo mesmo litoral brasileiro, da atual Bahia, e deixou mais parentes nossos.
E depois, seguiu para a Índia, numa missão comercial francesa, a primeira daquele país até a península Índica (somos uma das dez famílias mais antigas do Brasil; mais antigas que a nossa, só as dos descendentes dos marinheiros do navio de Cabral que fugiram em 1500, embrenhando-se na floresta, e as dos descendentes de portugueses que, estranhamente, foram descobertos nas proximidades de onde hoje é Santos, e que ninguém sabe ao certo por que estavam lá – onde devem ter chegado antes de 1500). Bastião conhecia exaustivamente as rotas oceânicas, não apenas por ser filho de João De Moura, o excepcional navegador português de meados do século XV. Também detinha no cérebro informações de uma família dedicada aos oceanos e mares desde tempos remotíssimos. Naqueles tempos, a pessoa já nascia sabendo que profissão teria, pois inexistiam escolas, e os filhos eram sempre aprendizes da profissão paterna; entre os Moura, quem não era navegador era cartógrafo, e ambos eram igualmente comerciantes).
Os sefaraditas, todos da tribo de Judá, durante o império israelita sob reinado de Salomão, ocuparam portos do norte da África, da península Ibérica e outros pontos estratégicos do Mediterrâneo, até as ilhas britânicas.  
         Os judeus, portanto, foram os primeiros ibéricos de religião monoteísta, muito antes de o catolicismo chegar ali. Em termos de data, isso significa que o sefaraditas, judeus da tribo de Judá, estavam onde hoje é a Espanha e Portugal, desde o ano 900 antes de Cristo. A cristianização dos demais ibéricos aconteceu só a partir do século V da atual Era (cerca de 500 anos depois de Cristo).  

Isso deve ser surpreendente para você, mas para mim não, é uma história em que nos confundimos com a própria História.
Passei a ter orgulho dos Mor/Moura, e eu quero te passar as informações, para que tenhas orgulho do que fomos como família, do que somos como brasileiros, e estejas preparado para enfrentar o João e o Virgílio Moura quando chegada a hora. Agora, provavelmente, eles já sabem quem foram e quem somos... 
A cidade De Moura existe até hoje, e lá estão as ruínas do palácio árabe que nós sitiamos e conquistamos. Somos lusitanos desde o primeiro momento. Mas, infelizmente, nos séculos XIV e XV deram-se as perseguições contra os portugueses de religiões judaica e muçulmana.
Mas agora isso já não é importante vivencialmente. Importância tem, como história. Só isso. Foi uma parente de João De Moura, aia da rainha portuguesa na primeira metade do século XV, a mentora escolar daquele que depois de adulto entraria para a história como o criador da escola de Sagres, líder dos navegadores que fizeram a glória de Portugal, o Infante Dom Henrique.
Por influência dela, ele foi grande amigo dos navegadores de religião judaica. Entre os grandes navegadores de Portugal nos séculos XIII, XIV e XV quase a metade era de judeus praticantes ou cristãos-novos (judeus que aceitaram o batismo com receio das perseguições religiosas). 

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